14-05-2006
Domingo. Dia com 23 graus de temperatura. Sol, calor, vontade de estar na praia já despachada do parto e com a minha bebé nos braços. Só o pai e a minha mãe é que sabiam que ia ficar internada naquele dia no Hospital de Faro para avançar com o trabalho de parto que não atava, nem desatava. Afinal estava com 41 semanas gestacionais e 40 semanas ecográficas! Contudo, o meu útero mantinha-se preguiçoso e só estava permeável a um centímetro de dilatação, ora para chegar até aos dez centímetros ainda faltavam algumas longas horas...
Estava nervosa, claro, mas tentava manter uma calma aparente para não desesperar, afinal ainda faltava tudo. Ouvia a minha música no meu MP3 e ia escrevendo umas linhas de sentimentos e de vivências hospitalares.
Tinham-me dado um comprimido que não iria tomar pelas vias tradicionais! Nada de dores nas primeiras horas. Deitada numa pequena cama de hospital com uma vista nada paradisíaca, esperava que passassem duas horas para poder enfim levantar-me...Depois seria reavaliada pelo médico para ver a evolução das coisas...Poderei ficar pelo menos 24 horas naquela cama, com o número 5, antes do parto acontecer e mais dois dias depois do parto: que suplício.
Ouço bebés a chorar durante a noite, quase não prego olho, ando e desando pelos corredores e andares do hospital, passeio, meu deus desespero a andar no hospital para acelerar o processo de dilatação e nada... Tento ler, trouxe um livro novo: "Boneca de Luxo" de Truman Capote, da colecção do Público, prevejo que consiga lê-lo todo antes do parto! ;-) Terei muito tempo para pensar nas coisas, mas penso principalmente na Inês cá dentro da minha barriga. Tento não pensar nas dores, nem na dilatação, estou sozinha, telefono à minha mãe, numa espécie de pedido de socorro que não tenho coragem para concretizar. Tento fazer-me de forte. Ela está longe, a mais de 400 quilómetros de distância, por isso não vale a pena pedir-lhe para dar um saltinho ao hospital para me trazer um bolinho ou um carinho.
15:30. O pai chegou, Iupiiii. Companhia, conversámos, acalmei. 16:00: hora da merenda (leite morno e um papo-seco com manteiga). Claro que comia mais, mas hospital significa dieta dura. Fomos passear no hospital, fomos a todos os andares: 8. Fiquei cansada, acho que ganhei músculos nas pernas. Não deveria sair do serviço, mas deixaram-me, afinal sentia-me tão bem que podia ir dar umas voltas nas lojas.
A gulodice apurou-se. Só me apetecem gelados e coisas que nem existem no hospital, devo estar carente. Na ala do hospital onde me encontro, a que lhe chamam de maternidade, mas que eu acho que não se parece a uma maternidade, só há papás babados e mães a amamentar ou pelo menos a tentar aprender a dar mama e a ver se os bebés pegam.
Deve ser a ala mais feliz do hospital, contudo mais tarde vou perceber que não seria assim tão fácil. Que no meio daquela maravilha que é parir um novo ser, há muito sofrimento real, muitos pontos no canal da vagina,muito desespero, pouco trabalho personalizado das equipas médicas e de enfermagem, muita solidão, pouco carinho num lugar branco e vazio.